segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Cafeomancia Acidental

Antigamente meu café era bom. Era desses comuns, nem forte, nem fraco. Apenas um café agradável para um começo de dia, talvez para uma dose pequena depois do almoço.
Era um bom café. Quente, por favor.
No passo a passo diário de minha vida, acabei alguma hora pisando no lugar errado. Por puro acidente perdi o barista existente dentro de mim.
Agora o café é sempre forte. Quiça um pouco amargo, dependendo do dia.
Gerando desconforto ainda me restam grão espalhados nos locais errados.
Numa manhã quente demais para um café tão forte, me deparei com o suspiro passado de quem brincava com o que não devia. Tentei ler minha borra de café.
Qual o limite onde tudo que a gente vê é de fato aquilo que a gente quer?
Vi equilíbrio.
Talvez uma orientação.
Uma mochila, mas sem direção.
Isso tudo me puxa recordações. Decisões.
Visualizo quase como se cada parte da borra se ligasse a mim como uma linha.
Passo o dedo e perco o borrão.
As vezes a linha que se arranca é aquela que ajudaria a dar alguma continuação.
As vezes é apenas uma linha arrancada.

Entre tudo isso, vi por último uma respiração.

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It Happened Quiet - Aurora

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